A
Acadêmicos do Cubango divulgou nesta quarta-feira a sinopse do seu enredo para o Carnaval 2012.
A Agremiação de Verde e Branca de
Niterói vai exaltar o
Barão de Mauá com enredo
“Barão de Mauá - Sonho de um Brasil Moderno", de autoria do carnavalesco Jaime Cezário.
Confira o texto
Apresentação do Enredo
Novos
tempos parecem descortinar para o Brasil nessa segunda década do
século XXI. O país começa a reformular políticas que, finalmente,
parecem caminhar para uma sociedade mais equilibrada, com menos miséria
e mais trabalho e desenvolvimento. O caminho é longo e o que pode
parecer muito aos olhos de alguns, na realidade é ainda um pequeno
passo nessa direção, mas enfim, parece que esse gigante com seu povo
pode começar a sonhar em melhores dias, mesmo ainda, convivendo com
desmandos e os equívocos da política nacional.
Nesta ocasião,
onde tudo indica, que o país caminha na retomada do desenvolvimento e
do equilíbrio social, é um momento dos mais propícios para a reflexão.
Revirando a nossa história, descobrimos que tudo poderia ser muito
diferente e que hoje, poderíamos estar já na categoria de uma Nação do
primeiro mundo e não na condição de país em desenvolvimento, onde
parte de nossa população ainda sofre com a miséria e a fome.
No
século XIX, o Brasil Imperial do Segundo Reinado tinha sua base
econômica apoiado na escravidão e na agricultura. Entretanto, um homem
sonhou com a modernidade, a valorização do trabalho livre e a
industrialização como sendo a única solução de desenvolvimento real do
país, e assim, se livrar da submissão e das interferências de
potências estrangeiras: Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá.
Se
o Segundo Reinado tem um rosto, ele é uma combinação dos traços de D.
Pedro II e de Mauá. É possível até que prevaleçam os de Mauá, um
cidadão do mundo. Sua vida e sua época confundem-se. O apogeu do
Segundo Reinado, na década de 60, foi o apogeu de Mauá. A agonia da
monarquia, a partir da segunda metade dos anos 70, foi sua agonia. A
morte de Mauá, um mês antes que se proclamasse a República não poderia
ser mais simbólica como o final de uma era.
O Carnaval do Rio
de Janeiro é o modelo de festa e organização admirado pelo mundo, e
nada melhor que utilizá-lo para esse resgate da memória nacional.
Momento propício para redescobrir esse homem que ousou sonhar, e por
esta ousadia pagou um altíssimo preço. Sua vida é marcada por grandes
vitórias e grandes derrotas, aplausos e impropérios que se misturavam
como jamais se vira antes no Brasil.
Um Brasil Moderno foi o sonho deste notável brasileiro e que também é o nosso, aqui representado pela
Escola de Samba Acadêmicos do Cubango,
que, no carnaval de 2012, sonha com modernidade, justiça,
reconhecimento e valorização de todo aquele que contribuir para um
Brasil melhor!
"As dificuldades fizeram-se para serem vencidas."
Barão de Mauá
Jaime Cezário (Carnavalesco)
No Brasil do início do século XIX, nasceu
Irineu Evangelista de Souza.
Gaúcho, perdeu ainda menino seu pai, e isto, o fez vir morar com
apenas nove anos no Rio de Janeiro para trabalhar no comércio como
caixero, uma espécie de office-boy. Ainda muito jovem se viu obrigado a
deixar de ser criança e assumir as responsabilidades de adulto.
O
Rio de Janeiro
desta época era uma cidade que havia se modernizado, tinha se tornado
a capital do Império Português e os modismos europeus começavam a se
instalar na cidade.
O Brasil era um país agrário, com extensas
culturas de cana de açúcar e café movido pela força do trabalho
escravo e a elite econômica pregava a vocação agrícola de nosso país,
alegando que por estas paragens não havia lugar para industrialização,
pois tudo o de que necessitávamos poderia ser fornecido pelos
ingleses, que há muito tempo se encontravam em plena fase da revolução
industrial.
Neste cenário o pequeno
Irineu irá dar seu primeiro grande salto de sua vida, surgindo o homem de comércio.
O
jovem caixeiro rapidamente conquistou a simpatia do inglês dono da
loja em que trabalhava, e que, além de acreditar em sua capacidade,
quando o julgou estar maduro, o introduziu na maçonaria. Na maçonaria,
Irineu encontrará seus futuros amigos, discutirá os problemas da
nação, saberá dos segredos da política nacional e conhecerá seus
futuros sócios.
Ao seu patrão inglês, depois compadre, Irineu
deve o pedaço mais vistoso de sua formação - a de comerciante.
Aprendeu a enxergar na escravidão um obstáculo poderoso ao
desenvolvimento do capitalismo no Brasil. Mais que tudo, viu no
caminho seguido pela Inglaterra, onde fábricas povoadas de máquinas
substituíam acanhadas oficinas, a chave para o progresso nacional.
Quando, aos 27 anos, já dono de uma grande fortuna, cruzou o Atlântico
para conhecer a Inglaterra, percebeu o quanto o Império Brasileiro
estava atrasado. Era imperioso transpor o abismo entre o passado
obscuro e um futuro revolucionário e de luz.
Ao retomar ao
Brasil, era outro. Encerrou as atividades comerciais e, com a riqueza
que acumulara, lançou-se à segunda etapa de sua vida - a de industrial.
Assim, seu primeiro empreendimento foi o estaleiro e fundição chamado Ponta da Areia, instalado em
Niterói,
onde se produziam tubos de ferro para canalização de rios, engenhos
completos movido a vapor, canhões de bronze para navios de guerra,
lampiões e pontes de aço. A lista de produtos incluía, também, navios a
vapor, que posteriormente integrariam a frota de guerra da marinha do
Brasil. Anos mais tarde, com a queda das tarifas alfandegárias aos
produtos importados, provocará o fechamento do empreendimento, era o
fim do Ponta da Areia.
O espírito empreendedor de Irineu não
ficou apenas ai, se lançou em muitos outros negócios, onde ninguém
enxergava nada ele via tudo. Em 1849, recebeu do imperador D. Pedro II,
o Hábito da Ordem de Cristo, a mais alta condecoração que um plebeu
poderia almejar. A pedido do governo brasileiro financiou o governo
uruguaio para combater as pretensões argentinas de ocupação.
Atendendo
outro pedido do governo, organizou em tempo recorde a empresa de
Navegação do Amazonas para impedir as pretensões expansionistas do
governo norte-americano nas riquezas do território amazônico. Com a
companhia de navegação, o governo brasileiro ocupa de vez a região e
acaba com as pretensões norte-americanas de ocupação.
Com 38 anos de idade em 1852,
Irineu Evangelista
tornou-se o homem de negócios do momento e então, não faltaram sócios
dispostos a apostar dinheiro nos negócios que ele indicava. Com o
final do tráfico de escravos para o Brasil,
Irineu resolveu abrir seu primeiro banco, que anos mais tarde será estatizado se tornando o atual
Banco do Brasil.
A
função deste banco seria de aproveitar o crédito disponível no
mercado que não mais seria empregado no tráfico de escravos e que
precisaria de bons investimentos. Com o capital do seu banco pretendia
fazer uma revolução, desde o financiamento da pro dução agrícola à
construção de estradas de ferro. Com dinheiro em caixa se lança no
projeto de construção da primeira estrada de ferro do Brasil, fundando
a Imperial Companhia de Navegação a Vapor e Estrada de Ferro de
Petrópolis. No dia da inauguração, em reconhecimento por seu
extraordinário empreendimento, recebe o título de Barão de Mauá.
Seus sonhos não paravam, e simultaneamente a estrada de ferro, aceitou o desafio de iluminar as ruas do centro do
Rio de Janeiro.
A idéia de iluminar as ruas da cidade com gás era antiga - mas, como
no caso da ferrovia, todos os que haviam tentado a empreitada
naufragaram em dificuldades. Por falta de terrenos disponíveis, resolveu
instalar a usina de gás no mangue que há séculos marcava o limite do
centro da cidade.
As obras do aterro mal começaram e logo os operários começaram a morrer devido a febre amarela. Apesar dos graves problemas,
Irineu iniciou a construção do Canal do Mangue, que foi a maior obra de saneamento do
Rio de Janeiro. Mauá queria usar o momento para ser o revolucionário da economia, mas saiu dele como Barão do Império.
Mauá
andava depressa demais na visão de muitos políticos brasileiros, seus
discursos sobre a valorização do trabalho soavam ofensivos numa
sociedade com base na agricultura e escravidão. Para frear os ventos
progressistas criados pelo primeiro Banco de Mauá, o império brasileiro
resolveu intervir no mercado e criar um banco oficial para
administrar o capital.
A saída encontrada foi da estatização do banco do Barão, o transformando então, no
Banco do Brasil.
Um duro golpe nos sonhos do Barão de Mauá! Mas sua inteligência
extraordinária não demorou muito para encontrar uma saída desse momento,
imaginou criar uma nova instituição financeira, bem diferente da
primeira que criara: um banco internacional.
Toda sua obra, em
seu devido tempo e lugar, se revestiu de grande importância, mas uma
delas haveria de mudar o destino de nosso país: A ferrovia SPR - The São
Paulo Railway Company, unindo o porto de Santos à cidade de Jundiaí.
Em toda sua existência, a ferrovia mudou, até os dias de hoje, o eixo
econômico brasileiro para as terras paulistas. Por seus trilhos desceu
nossa riqueza maior - o café, e subiram os imigrantes, que deram novo
impulso ao desenvolvimento do país.
Desse modo, Mauá controlou oito das dez maiores empresas do país, se tornando o homem mais rico do Império do Brasil.
Mauá,
ainda ficou encarregado de cuidar de algo de grande interesse para
nação: a instalação de um cabo submarino entre Brasil e a Europa, capaz
de trazer instantaneamente notícias, que demoravam um mês para chegar
nos navios. Executou esta tarefa sem ônus para o Império e como
reconhecimento deste grande serviço prestado recebeu o título de
Visconde de Mauá.
Em 1875, diante de enormes problemas
enfrentados e do boicote sofrido, o visconde teve que pedir moratória
para seu banco. Mauá desfez-se de tudo para pagar as suas dívidas.
Despojamento total para atingir um único objetivo, pagar a todos que
devia e recuperar o que para ele valia mais que os bens de fortuna: seu
nome honrado.
Exemplos como o de Visconde de Mauá devem ser
cultuados sempre pela memória nacional, seu sonho de um Brasil moderno
consegue ainda ser atual e seu legado maior foi, sem sombra de dúvidas,
além de sua grande visão de futuro, uma profunda lição que se faz tão
necessária aos dias de hoje: a de um homem íntegro, justo, honesto,
leal, sincero, corajoso, capaz, e, sobretudo, de profunda honra
pessoal. Fica-nos a lição de que se o empreendedorismo industrial
conduz o país a um promissor futuro econômico, a solidez moral
constrói uma grande nação, deixando aos filhos o caminho aberto para a
construção de um mundo melhor, com uma sociedade mais justa e
equilibrada.
Sinopse Poética
Vem do Sul
A minha inspiração.
De lá nasceu um menino,
Que parece ter sido
Acalentado pelo dom da criação.
Irineu Evangelista de Souza.
A perda do pai guarda na lembrança,
Em busca de um sonho,
Tornou-se cedo adulto.
Mudou-se para o
Rio de Janeiro,
Cidade Imperial de modas e modismos europeus
Trazendo na mala a esperança.
Tão menino, já era caixeiro.
Na arte do comércio descobre o valor do trabalho.
Num país agrário movido pela força da escravidão,
As riquezas eram a cana-de-açúcar e o café.
E a elite econômica não quer modernidade.
Apenas usufruir dos privilégios dos produtos industrializados,
Que vinham da revolução industrial, todos os artigos necessários.
Irineu cresce na arte de comerciar.
Sonhando com novas fronteiras se torna maçom,
Fortalece seu conhecimento e aumenta sua fé no trabalho.
Novos projetos ele realiza. É hora de mudar.
O caminho é industrialização.
A Inglaterra o inspira.
Em
Niterói floresce a primeira indústria de Mauá
Onde constrói navios, pontes e canhões.
Surge a fundição e estaleiro: Ponta de Areia.
Seu destino é pioneiro e empreendedor.
Lança-se em muitos outros negócios,
Por determinação e fé no Brasil.
Recebe do Imperador a mais alta condecoração:
O "Hábito da Ordem de Cristo".
Leva a luz da modernidade de norte a sul,
Cruza fronteiras para colaborar com o Império.
Ajuda o Uruguai contra as pretensões argentinas de ocupação,
Sonha em unir os países platinos em parcerias comerciais.
E do sul parte para o norte verdejante,
Uma nobre missão.
Proteger o Amazonas do ambicioso Tio Sam,
Cria a "Companhia de Navegação do Amazonas".
Põe um fim nas pretensões norte-americanas.
Mauá não pensa em parar
Ele quer fazer mais pelo Brasil.
Sonha com modernidade e realizações,
Funda o Banco Mauá.
Com dinheiro cria a primeira ferrovia e a companhia de iluminação a gás,
Quer ser um revolucionário da economia nacional.
Com o reconhecimento imperial,
Ganha o título de nobreza: Barão de Mauá.
E cada vez mais, mostra o quanto é capaz.
Projeta, avança, constrói... Certo do que lhe conduz,
A cada pensamento uma luz.
Homem de valor, que se difere na hora de propor.
Cria um banco internacional,
Com filiais no exterior.
Segue os caminhos da evolução.
Nem a oposição o faz parar...
É alma de um país inteiro,
Pulsando do seu patriotismo brasileiro,
Que parece não acabar.
Em seu tempo e lugar,
Associa-se aos ingleses.
Cria uma nova ferrovia...
O progresso floresce,
Da noite, pro dia...
De Santos à Jundiaí,
Pelos trilhos, movia-se o café.
Imigrantes são bem vindos.
Muda-se o destino da economia.
O valor ao trabalho,
A sua inspiração!
Até a instalação
De um cabo submarino,
Entre o Brasil e a Europa,
Fora confiado ao Barão.
Que não fez desfeita:
- Se é do interesse da Nação
o Império, aceito a missão!
Um presente do tempo,
À sua arte de comerciar.
Deste trabalho,
Pode se orgulhar
Recebendo o título
De Visconde de Mauá.
Personificado
Em sua vida e glória,
Uma certeza:
Mauá preferiu a honra,
Em troca de sua riqueza.
A
Cubango valendo-se
Dessa dádiva empreendedora,
Estende seu manto verde e branco.
Traz o seu legado Real,
Fantástico,
Eterno.
Testemunho da História,
Para construção de um Brasil moderno.
Texto Sinopse Poética: Jaime Cezário e Marcos Roza, pesquisador de enredos.
Justificativa do enredo
O carnaval do
Rio de Janeiro
é a grande vitrine da cultura popular do Brasil, onde, através das
Escolas de Samba, muitos assuntos importantes da nossa história são
resgatados para o conhecimento do povo brasileiro. Nós, da
Acadêmicos do Cubango, Escola de Samba da Cidade de
Niterói, sentimos muito honrados em apresentar para o carnaval 2012, o enredo sobre este notável brasileiro:
Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá.
Buscamos
ao longo de nossa existência, como instituição cultural que
representa uma comunidade apaixonada pelo Samba e pelo alviverde do
nosso pavilhão, valorizar momentos, personagens e fatos que tragam
informação, cultura e reflexão.
O Barão de Mauá, um homem extraordinário, escolheu a Cidade de
Niterói para construir sua primeira indústria: o Estaleiro e Fundição Ponta de Areia.
A mensagem maior deste enredo serve de grande inspiração para todos os brasileiros, e especialmente para nós,
Acadêmicos do Cubango,
que há anos lutamos com todas as forças para atingir pela 1ª vez o
sonhado Grupo Especial. A determinação e força transmitidas pela
história do Barão de Mauá de nunca se abater com as dificuldades e
sempre encontrar uma saída para atingir seus objetivos é pura
inspiração. Sua busca na valorização do trabalho sério, a honradez
moral e a justiça nos aproxima ainda mais do homenageado, pois faz
parte da nossa bandeira de luta como instituição cultural que valoriza e
respeita esse patrimônio nacional que é o samba brasileiro.
O
Barão foi um homem que viveu no século XIX, mas suas opções e
estratégias empresariais poderiam ser melhor explicadas com conceitos
atuais como globalização, tecnologia de ponta, multilateralismo, mas
nem sempre conseguia se fazer entender por uma sociedade de senhores e
escravos, favores e conchavos. Sua vida protagonizou uma aventura
empresarial sem paralelo em qualquer outro momento da história do
Brasil
Mostrar na Marquês de Sapucaí o enredo sobre o Barão de
Mauá e sua trajetória de lutas e conquistas é uma grande honra e sua
história nos revigora, afinal é um exemplo de determinação e fé em dias
melhores para essa Nação.
Jaime Cezário (Carnavalesco)
Nenhum comentário:
Postar um comentário