Um enredo que tem tudo a ver com o atual momento da escola. Essa é a opinião do carnavalesco Jaime Cezário, que desenvolverá 'Barão de Mauá – o sonho de um Brasil Moderno' na Acadêmicos do Cubango neste carnaval. Jaime considera a Cubango uma guerreira que nunca desiste de seus ideias, assim como o homenageado, um dos principais responsáveis pelo desenvolvimento industrial e financeiro do Brasil.
Dando prosseguimento ao primeiro setor, o abre-alas da escola, que impressiona pelo tamanho e bom acabamento, representará o Rio de Janeiro da época de Pedro II. Os costumes europeus, a riqueza, o tráfico de escravos, a cana de açucar e o café também estarão na abertura do desfile da escola. Jaime revelou que pretende passar um pouco do sentimento defendido pelos barões de café. Eles achavam que o Brasil não precisava se industrializar, porque tudo viria da Inglaterra. Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá, discordava e o seu início no comércio será mostrado.
- No segundo setor vamos falar que o Barão já via que a industrialização era preciso. Ele começa a expandir os horizontes, torna-se maçom e, na maçonaria, aprende a valorizar ainda mais o trabalho livre e vira defensor dos ideais abolicionistas. Para ele, se o Brasil quisesse chegar a uma posição de respeito no cenário mundial deveria abolir o trabalho escravo e investir na industrialização – explica Jaime Cezário.
Com isso, ele começa a pôr em prática ao criar a primeira indústria do Brasil, em Niterói, o Estaleiro Mauá, que existe até hoje. No estaleiro foram feitos 72 navios, alguns deles usados na Guerra do Paraguai. Além dos navios, lampiões e tubulações também eram produzidos no estaleiro.
- É um marco para o Brasil e para a vida dele. Por essa atitude pioneira ele recebe do Império a condecoração da ordem de cristo, que era a maior condecoração que um plebeu poderia receber. A bateria, inclusive, vem com essa fantasia. Os passistas representarão o Império reconhecendo o valor. Após a primeira indústria ele começa a formar uma das maiores fortunas do Brasil. Era um fomentador de ideias. A pedido do Império, ele funda a primeira companhia de navegação do rio Amazonas. Naquela época, o rio Amazonas estava fechado e os Estados Unidos fazia uma política expansionista, queria ocupar o Amazonas, diziam que o Amazonas era a continuação da Bacia do Mississipi, o que é um absurdo. Havia até começado a financiar grupos aventureiros e exploradores para irem até o Amazonas. O Império estava de mãos atadas e viu no Barão de Mauá a única pessoa capaz de fazer isso – complementa o carnavalesco.
No terceiro setor surge o banqueiro. Querendo fazer mais pelo Brasil, o Barão de Mauá percebe que o dinheiro que arrecadava com a indústria não era suficiente. O tráfico de escravos havia sido proibido pela Inglaterra e ele vislumbra uma possibilidade de ganhar dinheiro a partir disso. Os milionários da época eram os traficantes de escravos. Então ele cria um banco, dando um percentual de retorno para quem aplicasse. O negócio começa a todo vapor e torna-se o maior banco do Brasil. O Império, sem banco, se interessou e resolveu estatizar o banco de Irineu. Além disso, ele cria a primeira ferrovia do país e desenvolve o projeto de iluminação a gás no Rio de Janeiro. Por todos esses feitos e mais alguns, ele ganha do Império a nobreza e recebe o título de Barão. Jaime diz que a contragosto do próprio Império, pois seu lado empreendedor e inquieto não despertava simpatia de Pedro II
- O quarto setor fala sobre a ida de revolucionário da economia a Barão do Império. Ele torna-se aquilo que no início da vida não tinha muita simpatia, mas gosta, faz o brasão dele. A estatização do banco o deixa alucinado, porque tiraria dele o dinheiro para o financiamento de seus projetos. Com isso, teve a ideia de fundar um banco internacional com capital estrangeiro. A sede era em Londres, local onde era muito respeitado, Nova Iorque, Paris, Buenos Aires, Montevidéu e várias cidades do Brasil. Das oito maiores empresas do Brasil, só duas não eram dele. Cria a ferrovia Santos-Jundiaí, que ajuda muito São Paulo a ser o estado mais rico do país, a primeira companhia de bonde puxada a burro, incentiva a imigração no sul do país e no interior de São Paulo – lembra o carnavalesco.
O último setor do desfile da Cubango pretende promover uma grande homenagem. A última alegoria é um trem-bala partindo para a estação Brasil. Jaime Cezário explica que foi a maneira encontrada por ele para ilustrar a importância do Barão de Mauá para o desenvolvimento do país. O elo de ligação da fibra de Mauá com a garra geralmente mostrada pela escola em seus desfiles é outro mote do enredo. Apontada como a melhor escola do Grupo de Acesso A no carnaval passado por grande parte da crítica especializada, a Cubango acabou em quarto lugar, mas Jaime garante que o episódio não abalou a confiança dos componentes.
- A minha maior surpresa é justamente essa vontade que a comunidade está mostrando. O que ficou do carnaval é que nós fomos realmente a melhor escola. Não fomos nem vice-campeões, ficamos em quarto, mas saímos de cabeça erguida, cientes que fizemos o melhor trabalho. O primeiro ensaio de rua da Cubango este ano tinha quase duas mil pessoas. Para uma escola do Grupo de Acesso é muita coisa, levei até um susto. Não só a Cubango ficou dolorida, a crítica também. Acho que todos querem que vença a melhor. É difícil ver alguém vencendo sem merecer. Acredito que faremos um grande desfile mais uma vez, mas sabemos que a quarta-feira de cinzas pode ser complicada – desabafou ele.
A relação com o folclórico presidente Pelé também foi abordada por Jaime Cezário. É o quarto carnaval que o carnavalesco desenvolve na escola sob a administração de Pelé, desde 2003 no cargo.
- Temos uma empatia muito boa e ele confia muito no meu taco. Para um profissional não há coisa melhor que isso. Tenho uma química muito boa com a Cubango. A escola já teve vários bons nomes como carnavalesco, mas acho que ninguém conseguiu fazer como eu faço. Em 2005, no carnaval sobre o Candomblé, trouxemos um carnaval campeão e a escola perdeu para ela mesma. Isso sem um p..., agora estamos cheios de p... (risos).
Buscando o primeiro título de sua história no Grupo de Acesso A, a Acadêmicos do Cubango tentará conquistar o direito de debutar no Grupo Especial em 2013 fechando os desfiles do sábado de carnaval.
Fonte: CARNAVALESCO
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