O intérprete Leonardo Bessa, Ex-produtor do CD de sambas-enredo
da Série A, convocou para a noite desta sexta-feira uma coletiva de
imprensa para abordar a troca anunciada pela Lierj na última quarta na
produção do CD. A produção, que antes era feita por Bessa, será agora
feita pelo Ex-Presidente da Mangueira, Ivo Meirelles. A novidade ficou
por conta do DVD com imagens das quadras das escolas a ser distribuído
junto com o CD e que consta no projeto apresentado por Ivo. Em
entrevista, Bessa alega ter sido pego de surpresa:
- Acho importante falar disso agora para colocar uma pedra no assunto
e falar tudo de uma vez, de uma forma geral. Na segunda retrasada fui
convocado para uma reunião na Lierj, para falar sobre o CD, do qual já
estávamos falando desde o Sorteio, em maio. Quando cheguei lá, fui
informado que havia uma nova proposta para a produção do CD na qual eu
estaria fora dos planos para 2016. Fiquei surpreso, porque quando você
no ano anterior acaba de realizar o maior trabalho da sua vida, que
rendeu Disco de Ouro, aceitação da mídia carnavalesca e dos sambistas e
que foi considerado o melhor CD da história da Série A, você não espera
que vá ser substituído. Levando em consideração todo o processo de
pré-produção e que as gravações começariam em 15 dias, ficamos
surpresos. Tentei ponderar, pois quando me disseram isso em reunião,
alegaram que se tratava de um estudo de possibilidades. Oficialmente, eu
só vim a saber da troca quando a informação foi divulgada para a
imprensa na quarta.
Bessa alegou desconhecer os motivos para a troca na produção da Série
A e acredita que essa seja uma resposta que deve partir da própria Lierj. Ele afirma que a decisão já havia sido tomada de antemão e só foi
anunciada, sem que ele pudesse fazer uma contraproposta:
- Sou uma pessoa que ao longo de anos, desde 2003, venho trabalhando
por esse CD do Grupo de Acesso. Ano a ano viemos fortalecendo esse
trabalho. Quando chega num momento desse, no ápice da carreira, a gente
fica um pouco chateado. Acho que a Lierj tem pleno direito de escolher o
profissional que vai tratar o seu projeto, mas para nós fica a tristeza
pela forma como fomos tratados. Todo mundo sabe que é difícil, temos
poucos recursos e tiramos leite de pedra. Como temos amigos e pessoas
que acreditam no projeto, conseguimos realizar o projeto da maneira como
realizamos. Quem pode responder melhor sobre os motivos da troca é o
próprio presidente Déo, haja vista que em nenhum momento foi nos dada a
possibilidade de oferecer uma contrapoposta. Agora, com a poeira
começando a baixar, era algo que havia sido definida e não tiveram a
coragem de colocar como definição. A questão financeira é difícil de
falar, pois não sabemos o teor do que foi proposto.
Bessa e Ivo: filosofias de trabalho diferentes
Segundo Bessa, foi Ivo Meirelles quem não quis trabalhar em parceria
com ele, conforme proposto pela Lierj durante a negociação da troca na
produção. - Ano passado quando estávamos masterizando o disco, o Ivo
apareceu no estúdio porque era amigo do dono e eu o recebi super bem.
Conforme o Déo me passou, quando receberam a proposta, a Lierj chegou a
colocar que eu continuasse no projeto junto com o Ivo e ele não aceitou,
pois não queria a minha parceria. Sabendo que era uma proposta dele,
tive que concordar porque são duas filosofias de trabalho diferentes.
Acho que ele já provou a qualidade do trabalho dele em 2009, todo mundo
conhece bem o trabalho que ele fez. O próprio histórico dele no carnaval
já fala por ele.
'Não houve resistência minha ao DVD'
Questionado se a questão da produção de um DVD poderia ser o motivo
para a troca na produção, Bessa alega que nunca foi resistente à ideia
de criação deste tipo de mídia. Ele coloca, porém, que acredita ser
necessário um tempo hábil para uma produção de boa qualidade e diz que
se propôs a fazer o DVD para a Lierj quando soube da proposta de Ivo:
- O DVD era uma ideia do Déo (Pessoa, presidente da Lierj) há dois
anos e não víamos porque juntos não tentar achar uma solução. Quiseram
optar por essa proposta, até onde sei parece que foi oferecido tudo de
forma gratuita, mas sem saber o que está te contrapondo não há como
reagir. Em 2010, nós já fizemos esse trabalho do DVD com as escolas do
Grupo B e de forma alguma houve resistência minha para o DVD da Série A.
O que eu alertava ao Déo é que um produto desse na Série A precisava
ser de excelência e ao meu ver um trabalho desse não é feito em um mês.
Pra quem trabalha com isso, sabe o custo e o tempo de um projeto com 14
músicas. Em nenhum momento houve resistência, inclusive quando eu soube
dessa questão do DVD, busquei amigos e parcerias e até me coloquei a
disposição a cobrir essa oferta. Eu disse ao Déo que se o problema fosse
o DVD, nós daríamos um jeito.
Apesar da surpresa com a troca em meio ao bom trabalho realizado,
Bessa já havia passado por situação semelhante entre os anos de 2008 e
2009, quando o Grupo de Acesso passou a ser administrado pela extinta
LESGA. Ele diz ainda não pensar sobre um retorno à produção do CD num
futuro próximo e diz que tudo o que fez pelo projeto foi de coração.
'O CD de 2016 seria nosso ápice'
- Fica a sensação de um déjà vu porque de 2008 para 2009 a mesma
situação ocorreu com a mesma pessoa que chegou com uma proposta dita
mais vantajosa, assim como nesse ano. Não temos rivalidade, são negócios
e a gente peca por não tratar como negócio de fato e acabar levando pro
coração. Tudo que eu fiz até hoje por esse CD e pelo carnaval eu fiz de
coração, eu nasci sambista e sou sambista. Voltar um dia é algo que não
estou pensando agora, o que desejo agora é boa sorte para que eles
consigam manter o nível de trabalho que elevamos, foram anos para chegar
no ponto em que estamos e, ao meu ver, o CD de 2016 seria o nosso ápice
e acho que todas as pessoas das escolas estavam esperando por esse CD.
Todo mundo que trabalha comigo sabe do cuidado e organização que tenho.
Todos da minha equipe tem a mesma ideia comum de fazer o melhor possível
em busca de um produto de excelente qualidade.
FONTE: CARNAVALESCO