23/02/2019 10:21 em Novidades
Desfile da Caprichosos de Pilares em 1985
Por Márcio Pereira, da Web Rádio Carnavalizando.
Onde andam vocês, antigos carnavais?
A
história do concurso de escolas de samba no Rio de Janeiro já se
aproxima dos cem anos de existência, então nada mais justo do que
relembrar passagens, entidades, personagens e momentos marcantes e que
tornaram a folia carioca um patrimônio cultural do país e uma referência
em cultura popular no mundo inteiro. O objetivo desta coluna é trazer,
periodicamente, histórias, informações, listas e opinião pessoal deste
que vos escreve, que apesar de não ser contemporâneo da chamada “era de
ouro” do Carnaval, se orgulha de ser um “pesquisador” e principalmente
um apaixonado pelas coisas do espetáculo.
Para
começar, pensei em falar de algumas escolas que marcaram época nos
desfiles do Rio de Janeiro, seja por seus enredos, pelos seus sambas,
pela sua tradição em volta e meia aparecer no grupo especial ou por
algum outro motivo específico, e que se encontram longe da Sapucaí, ou
por pertencerem a um dos grupos de acesso, que desfilam na Estrada
Intendente Magalhães, ou por simplesmente terem deixado de existir.
Procurarei falar brevemente de cada uma, citando suas maiores
contribuições para a festa e explanando sobre as suas situações atuais.
Uma ótima forma de iniciar este texto é com a Caprichosos de Pilares,
cujo samba mais famoso dá nome a esta coluna. A agremiação fundada em
1949 possui vasto repertório de sambas e desfiles sempre lembrados pelos
sambistas, por toda a irreverência característica da escola e pelas
suas vozes marcantes, como Carlinhos de Pilares e Jackson Martins.
Porém, certamente o desfile de 1985, “E por falar em saudade...”, é o
mais aclamado pelo povo do Carnaval. Cantando os “tempos antigos”, onde
era comum andar de bonde, quando o leite não possuía água em sua
mistura, onde a gasolina era barata (problema antigo, esse hein?),
clamando o voto direto para presidente, entre outras coisas, e com uma
pitada de irreverência presente nos inigualáveis refrães, cantados a
plenos pulmões pelo público que resistia na Sapucaí em meio ao tórrido
sol da terça de Carnaval, a escola foi aclamada como a “campeã do povo”
naquele ano, mesmo no julgamento oficial tendo ficado longe da disputa.
Infelizmente,
a Caprichosos entrou em uma crise sem fim a partir do seu rebaixamento
do Grupo Especial, em 2006, e foi passando, ano após ano, de coadjuvante
na Série A para candidata à queda, até que em 2016 foi rebaixada
novamente, indo parar na Intendente Magalhães. Em 2017 mais um
rebaixamento na Série B, até que em 2018, pela primeira vez em sua
história, a escola de Pilares deixou de desfilar. Em 2019 a agremiação
teria que se apresentar na Série D, quinta divisão do Carnaval do Rio,
mas mais uma vez pendências administrativas e financeiras impedem a tão
popular e tradicional Caprichosos de Pilares de botar seu desfile na
rua. As chances de “enrolar a bandeira” são significativas, logo no ano
em que completa 70 carnavais.
Desfile da Caprichosos em 1985 (Fonte: O Globo)
Já a Em Cima da Hora,
presente no principal grupo do carnaval carioca por cinco anos na
década de 70, não poderia faltar nesta lista, principalmente pelo samba
que seria sua maior obra até hoje - “Os Sertões”, de 1976 -, que é
considerado por muitos o melhor samba-enredo de todos os tempos (claro,
assunto sempre polêmico). Neste ano, a agremiação de Cavalcanti teve
inúmeros problemas devido às fortes chuvas que caíram na cidade, sendo
rebaixada. Desde então, voltou ao Grupo Especial em apenas uma
oportunidade, em 1985, sendo que apenas em 2000 chegou perto de repetir o
feito. Tem transitado entre os diversos grupos de acesso nos últimos,
estando longe da Sapucaí desde 2015. Atualmente está na Série B,
terceira divisão. A entidade completa 60 anos em 2019.
Desfile da Em Cima da Hora em 1976 (Fonte: Acervo O Globo)
A terceira escola que abordaremos nesta coluna é a Tupy de Braz de Pina,
também conhecida por conta de um samba considerado dos melhores já
feitos, o de 1961, ainda no grupo de acesso, “Seca no Nordeste”. A
entidade desfilou por alguns anos no principal grupo, sendo a última vez
no ano de 1976. Esteve sem desfilar entre 1999 e 2014, retornando em
2015 na Série E, posteriormente subindo à Série D, onde se apresentou
pela última vez em 2018, dando lugar a uma nova entidade, a “Botafogo
Samba Clube”. Em 2018 a Tupy completou 70 anos da sua fundação.
Desfile da Tupy em 1976
Outra agremiação tradicionalíssima da história dos desfiles e que anda fora dos principais grupos é a Unidos do Cabuçu,
do bairro de Lins de Vasconcelos, e que foi presença costumeira nas
duas primeiras divisões desde o final dos anos 40 até o fim do século.
Na década de 80 a Cabuçu teve uma sequência de seis desfiles seguidos no
Grupo Especial, e ficou famosa por fazer homenagens a personalidades
brasileiras, como Roberto Carlos, Milton Nascimento, Beth Carvalho e o
grupo humorístico “Os Trapalhões”. Neste milênio, a representante da
zona norte carioca tem transitado entre as séries B e C, terceira e
quarta divisões na pirâmide momesca da Cidade Maravilhosa. A Série C é
onde a popular entidade se encontra para 2019.
"Os Trapalhões" no desfile da Cabuçu em 1988
Também de Lins de Vasconcelos vem outra escola de samba retratada aqui hoje, a Lins Imperial.
A verde-e-rosa, resultado da fusão entre Flor do Lins e Filhos do
Deserto, estreou no grupo principal em 1976, já com um grande samba:
“Folia de Reis”. Sendo uma agremiação tradicional nos três primeiros
grupos da folia carioca, a Lins voltou mais duas vezes ao Grupo
Especial, já no começo da década de 90, com dois enredos marcantes,
trazendo “Madame Satã” e Chico Mendes. Atualmente, a escola que chegou a
cair para o penúltimo grupo milita na Série B, lutando para voltar a
desfilar na Sapucaí.
Desfile da Lins em 1990 (Fonte: Revista Manchete)
Mais uma escola com muita história, a Unidos de Lucas,
conhecida como “o galo de ouro da Leopoldina”, tem em sua origem a
fusão de duas entidades: Aprendizes de Lucas e Unidos da Capela, sendo
esta última duas vezes campeã do Carnaval do Rio. A agremiação, que
possui o vermelho e o amarelo como suas cores, fez seu primeiro Carnaval
em 1967, já estreando no grupo principal, e por lá ficou três anos
seguidos, ainda voltando em mais três oportunidades e trazendo uma lista
de sambas memoráveis como o espetacular “História do Negro no Brasil”
(Sublime Pergaminho), de 1968, “Rapsódia Folclórica”, de 1969, “Mar
Baiano em Noite de Gala”, de 1976 – último ano em que Lucas passou no
primeiro grupo – e “Lua Viajante” de 1982. Infelizmente, desde 1995 a
representante da Leopoldina não passa nem no segundo grupo, tendo
inclusive chegado à sexta divisão, última no Rio, em 2011, mas
recuperando-se desde então até voltar para a Série B para 2019, onde
tentará o esperado retorno à Sapucaí.
Desfile da Unidos de Lucas em 1969
Por fim, a escola mais nova a ser citada aqui também tem uma trajetória da qual pode se orgulhar. A Tradição nasceu
de uma dissidência da Portela em 1984 e teve em seus primórdios nomes
de peso como familiares do grande Natal da Portela, João Nogueira e
Paulo César Pinheiro como compositores de seus cinco primeiros sambas,
Viriato Ferreira e Maria Augusta como carnavalescos, entre outros, tendo
uma ascensão meteórica do último grupo para o Especial em três anos. Em
1989 foi rebaixada e por alguns anos virou uma escola “ioiô”,
alternando-se entre as duas primeiras divisões até se consolidar num
período de oito anos entre 1998 e 2005, quando caiu e nunca mais voltou
ao convívio das grandes entidades carnavalescas do Rio. Desde a queda, a
Tradição se alterna entre as Séries A e B, sendo que desde 2015 desfila
na Intendente Magalhães, na Série B, praticamente na frente da sua
sede. De lá, tenta retornar aos seus melhores dias.
Desfile da Tradição em 1994
Esses
são apenas alguns exemplos de ícones do Carnaval carioca. Poderíamos
citar ainda muitas outras entidades, mas essa coluna teria que ser
transformada em uma série de textos (quem sabe uma ideia para o
futuro...). Só para ficar em algumas referências, entre escolas que
ainda militam na folia atualmente, temos o Arranco do Engenho de Dentro,
Arrastão de Cascadura, Vizinha Faladeira, Unidos do Jacarezinho, Leão
de Nova Iguaçu... e temos ainda aquelas agremiações que se foram e
deixaram saudade, como a Império do Marangá, a Aprendizes da Boca do
Mato, a Independentes de Cordovil, a Recreio de Ramos e a Prazer da
Serrinha como várias outras.
Nos
próximos textos deste espaço pretendo relembrar intérpretes, sambas,
desfiles, enfim, personalidades que construíram o percurso dessa grande
celebração da cultura popular que é o Carnaval. Críticas e sugestões
sempre serão bem-vindas!
De uma barrica se fez uma cuíca
De outra barrica um surdo de marcação
Com reco-reco, pandeiro e tamborim
E lindas baianas
O samba ficou assim
(Império Serrano – 1982)
FONTE: WEB RÁDIO CARNAVALIZANDO
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